São
Gregório Magno
3 de
setembro
Doutor da Igreja, um dos maiores Papas da História,
dirigiu a Barca de Pedro com rara habilidade e deu rumo à conturbada época em
que viveu
Gregório é certamente uma das mais
notáveis figuras da história eclesiástica. Exerceu em vários aspectos uma
significativa influência na doutrina, organização e disciplina da Igreja
Católica.
A ele devemos olhar, para a explicação
da situação religiosa da Idade Média; com efeito, não se levando em conta
seu trabalho, a evolução da forma da Cristandade medieval seria quase
inexplicável.
Tanto quanto o moderno sistema católico é um legítimo desenvolvimento do
catolicismo medieval, não sem razão Gregório deve também ser chamado seu pai.
Quase todos os princípios diretivos do subseqüente Catolicismo são encontrados,
pelo menos em gérmen, em
Gregório Magno.
Ele merece o glorioso título de Magno por todas as razões que podem elevar um homem acima de seus
semelhantes: porque foi magno em nobreza e por todas as qualidades que vêm do
nascimento e dos ancestrais; magno nos privilégios da graça com que o Céu o
cumulou; magno nas maravilhas que Deus operou por seu intermédio; e magno pelas
dignidades de Cardeal, de Legado, de Papa, para as quais a divina Providência e
seus méritos o elevaram.
Gregório nasceu em Roma no ano 540. Seu pai, Gordiano, era senador. Muito
rico, após o nascimento do filho consagrou-se inteiramente a Deus no serviço
dos pobres.
Dotado de excepcional inteligência e brilhante memória, Gregório aprendeu com
facilidade as letras divinas e humanas. É bem provável que tenha também
estudado Direito. São Gregório de Tours, que nos deixou algumas impressões
sobre ele, diz que em gramática, retórica e dialética ele era tão hábil que,
segundo voz corrente, não tinha igual em toda Roma. Diz
também que ele se entregou a Deus desde sua juventude.
Enquanto seu pai foi vivo, Gregório tomou parte na vida do Estado e chegou a
ser prefeito de Roma. Com a morte daquele, resolveu retirar-se do mundo e
consagrar-se a Deus. Isso deu-se provavelmente em 574. Com sua grande fortuna, fundou seis mosteiros na Sicília, além de um em Roma, em seu palácio, com o
nome de Santo André. Nele tomou o hábito
religioso. Sua caridade para com os pobres era tão grande, que foi premiada
com vários milagres.
No ano de 590, terríveis inundações
seguidas de peste assolaram a Cidade Eterna, privando a Igreja de seu chefe, o
Papa Pelágio. O clero, o povo e o
Senado de Roma escolheram unanimemente para o Pontificado o
diácono Gregório.
Para fazer cessar o flagelo da peste,
convocou procissões durante três dias, com a presença de todos. Gregório portou
nessa procissão um antigo quadro da Virgem, cuja autoria é atribuída a São
Lucas. Segundo a tradição, por onde passava o quadro, o ar corrompido cedia
lugar ao são.
Quando ele chegou nas proximidades do mausoléu de Adriano, de acordo com a
mesma tradição, ouviram-se coros angélicos que cantavam: "Rainha dos Céus,
alegrai-vos, aleluia; porque Aquele que merecestes portar, aleluia; ressuscitou
como disse, aleluia". O povo ajoelhou-se, cheio de devoção e alegria, e
Gregório cantou: "Rogai por nós a Deus, aleluia". No mesmo instante
ele viu um anjo que embainhava a espada, para significar que o flagelo cessara.
A partir de então o mausoléu de Adriano passou a ser conhecido como Santo
Ângelo.
Triste situação se apresentava ao novo Papa. A Igreja estava em deplorável
estado, necessitando de mão firme que a reformasse. Na África, na Espanha, na
Inglaterra, na Gália, na Itália e no Oriente imperava a heresia.
O novo Papa lutava contra a peste, contra
os tremores de terra, contra os bárbaros heréticos e contra os bárbaros
idólatras, contra o paganismo morto e infecto mas insepulto, contra seu próprio
corpo, consumido pelas enfermidades; e se pôde dizer que a alma de Gregório era
a única inteiramente sã que existia em toda a humanidade.
Assim, com uma habilidade e energia
raras ele se multiplicava, tornando-se capitão, rei, pontífice, pai dos
romanos. Arregimentou tropas e pagou seu soldo, forneceu aos bárbaros as
contribuições que exigiam para não invadir Roma; alimentou e consolou o povo.
Obteve tréguas e conseguiu a conversão de toda a nação lombarda do arianismo para
a fé católica.
Por sua humildade, Gregório foi o primeiro Papa que se chamou "servo dos
servos de Deus". Em sua boca, essa declaração não era mera figura de
retórica.
Gregório foi profícuo em seus escritos, tendo todos eles alcançado grande
repercussão. Daí o título que merecidamente recebeu de Doutor da Igreja. Em
seu Livro da Regra Pastoral, por exemplo, uma de suas obras
que mais influíram na Idade Média, fornece ao clero uma norma de vida. Já em suas Homilias ,
dirige-se ao povo com uma simplicidade comovedora. Sua palavra é tão
eminentemente comunicativa, tão viva, tão apropriada, que a multidão a escuta
religiosamente, às vezes com lágrimas, outras com aplausos.
De valor mais transcendental foram sua consolidação litúrgica e a codificação
do canto eclesiástico (até hoje o canto
leva o seu nome, gregoriano).
São Gregório Magno teve grande empenho na conversão dos ingleses de modo a
merecer o título de Apóstolo da
Inglaterra.
Já no fim de sua vida, escreveu: "Há quase dois anos estou na cama,
com grandes dores de gota, de modo que apenas nos dias de festa posso me
levantar para celebrar. E logo, com a força da dor, me volto a deitar. [...]
Assim, morrendo cada dia, nunca acabo de morrer, e não é maravilha que eu,
sendo tão grande pecador, Deus me mantenha tanto tempo neste cárcere".
O grande Papa faleceu em 604, aos 60 anos de idade.
É o protetor dos cantores.
Hino de São
Gregório
Dos Anjos outrora apóstolo,
dos anjos agora irmão,
à grei que a Igreja congrega
estende, Gregório, a mão.
Calcando riqueza e glória,
do mundo o falso esplendor,
tu, pobre, seguiste o Pobre
de toda a terra Senhor.
Supremo Pastor, o Cristo,
confia-te a sua grei:
de Pedro recebe o cargo
quem segue de Pedro a lei.
Da Bíblia com seus mistérios
descobres a solução:
a própria Verdade te ergue
à luz da contemplação.
De todos os servos servo,
da Igreja papa e doutor,
não deixes os que te seguem
nas garras do tentador.
Por ti os mais belos cânticos
puderam vir até nós;
em honra ao Deus uno e trino,
rogamos juntos a uma só voz.
Amém.
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